Obama sanciona lei que limita espionagem, mas que terá pouco efeito prático

04/06/2015 16:27

Dois anos depois das primeiras denúncias do espião Edward Snowden sobre os abusos dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, Barack Obama sancionou uma lei que, ao menos nominalmente, limita a capacidade de agências como NSA e FBI de coletar massivamente as comunicações. As primeiras reportagens foram publicadas pelo jornal inglês The Guardian em 6 de junho de 2011.

Em tese, a apelidada ‘Lei Libertadora’ [Freedom Act] encerra 14 anos de coleta em massa de registros de ligações domésticas – ou seja, tendo norte-americanos como alvo. No lugar, mantém esses registros em poder das operadoras de telecomunicações, exigindo que o governo faça requisições específicas às teles.

Além disso, joga um pouco de luz sobre as cortes de vigilância e inteligência internacional [FISA, na sigla em inglês] – em essência tribunais secretos que autorizam determinadas operações de espionagem, que também são secretas. A nova lei passa a exigir a participação de defensores públicos nessas sessões.

Mas como destacam mesmo os que comemoram a aprovação e sanção do Freedom Act, seus efeitos práticos são pequenos – e em essência inexistentes sobre quem não é estadunidense. Grosso modo, espionar os próprios americanos vai exigir um pouco mais de burocracia.

“Celebramos porque, ainda que pequena vitória, a Lei marca um dia que alguns imaginavam jamais chegaria – o dia em que a NSA viu seus poderes de vigilância reduzidos. Mas se o Freedom Act castra o programa de vigilância sobre os registros telefônicos e garante maior transparência à sigilosa Corte FISA que supervisiona a espionagem, ele não resolve o problema da ampla vigilância digital”, frisou a entidade de direitos humanos Electronic Frontier Foundation.

Na verdade, o Freedom Act permite à NSA retomar a coleta massiva que foi (ou deveria ter sido) suspensa desde às 0h de 1o/6, quando parte da Lei Patriótica – criada na esteira dos atentados de 11 de setembro de 2001 – perdeu sua validade. É que a nova lei estabelece um período de transição de seis meses entre essa coleta massiva e a necessidade de requisições específicas às teles.

A ‘Lei Libertadora’ tampouco mexe em outros programas de espionagem da NSA e de outras agências dos EUA – como aqueles que ostensivamente miram estrangeiros, mas acabam permitindo a vigilância colateral de americanos. E, como já mencionado, nada muda na capacidade dos Estados Unidos de vigiarem as comunicações de não-americanos.

Sobram sinais de que a impressionante capacidade tecnológica dos EUA em espionar qualquer comunicação do planeta não gera os resultados esperados. No ano passado, um relatório sobre algumas centenas de ações terroristas concluiu que a coleta telefônica “não teve impacto discernível na prevenção dos atos terroristas”.

Alguma mudança legal era esperada, particularmente depois que, ainda em maio último, a corte federal de apelações dos EUA considerou ilegal a coleta de registros telefônicos pela NSA. Mas não há qualquer sinal de que a agência de segurança nacional americana deixará de utilizar o gigantesco datacenter de R$ 1,5 bilhão concluído em 2013 – que para guardar todas as chamadas telefônicas feitas nos EUA durante um ano ocupa menos de 2% de sua capacidade.