Livox: o app brasileiro que chegou ao BID
O Livox, aplicativo que dá autonomia na fala a pessoas com deficiências, representará o Brasil na Reunião Anual dos Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que ocorrerá na Coreia do Sul entre os dias 26 e 29 de março.
A solução, que surgiu a partir do amor de um pai pela filha com paralisia cerebral, foi eleita recentemente como o Melhor Aplicativo de Inclusão Social do Mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O presidente do BID, Luis Alberto Moreno, conversará com Carlos Edmar Pereira, criador do software, sobre a trajetória do Livox, o que inclui os desafios enfrentados para a inserção da ferramenta no Brasil e a perspectiva de expansão para o mercado internacional, com destaque para a América Latina e o Caribe. O bate-papo terá a interação de representantes dos 48 países membros do BID que estarão no encontro, compostos por Ministros das Finanças, Presidentes de Bancos Centrais e seus assessores, além de negociadores e potenciais investidores privados. De lá, o empreendedor social segue para Tóquio, no Japão, onde se reunirá com empresários intermediados pelo BID.
A participação ocorrerá logo após o Livox ter sido eleito como A Inovação Tecnológica com Maior Impacto de 2014, no Demand Solutions, em Washington, em dezembro de 2014, evento este organizado pelo BID em parceria com o Blum Center da Universidade Berkeley, dos Estados Unidos. Foram 200 startups de 22 países na disputa, que contou com um júri de especialistas em empreendedorismo, inovação, financiamento coletivo e outras áreas.
Necessidade
Fundado há quatro anos no Recife (PE), o Livox (Liberdade em Voz Alta) permite que pessoas com qualquer tipo de deficiência que impeça o processo da fala, como autismo, paralisia cerebral ou sequelas de AVC, tenham autonomia na comunicação. O aplicativo foi desenvolvido por Carlos Pereira especialmente para a sua filha Clara Pereira, atualmente com 7 anos de idade, vítima de paralisia cerebral decorrente de complicações durante o parto.
O Livox é baseado em algoritmos inteligentes que se ajustam a vários graus de dificuldades motora, visual e cognitiva. Os usuários podem relatar emoções, indicar exatamente o que querem comer; selecionar desenhos, filmes, jogos, músicas que desejam assistir e escutar; ajuda a aprender a ler e a estudar conceitos complexos como matemática; interagir rapidamente em perguntas cujas respostas sejam sim ou não; entre outras coisas. As atividades são ativadas pela seleção de figuras, textos e vídeos em tablet com o aplicativo instalado e as respostas são geradas por comando e voz.
Antes de criar a ferramenta, Pereira pediu auxílio a desenvolvedores internacionais, mas não conseguiu, para criar uma solução em português que promovesse autonomia à Clara, primeira paciente brasileira a fazer tratamento com células troncos, em 2009, na China. Desde então, o analista de sistemas conseguiu apoio de investidores estrangeiros e implantou uma clínica de fisioterapia no Recife (PE), onde reside e da qual ainda é diretor, para tratar sua filha. “Eles enviaram um contêiner com 2,5 toneladas de equipamentos médicos e eu precisei alugar um local, reformá-lo e contratar pessoas para fazer a clínica funcionar”, lembra Pereira.
A decisão de criar o Livox atendeu a uma necessidade de superar as dificuldades de comunicação de Clara. Antes, a comunicação com a menina era feita pelos pais por meio de um catálogo de "falas", ditas em voz alta quando selecionadas pela menina. Atualmente, a solução atende a 10 mil usuários, dentre famílias e instituições de assistência brasileiras, como a APAE, e é o objeto de estudo científico na área de cabeça e pescoço e na UTI do Hospital das Clínicas, em São Paulo, o maior da América Latina.